domingo, 10 de outubro de 2010

A vida é uma desgraça!

    A vida é uma caixinha de surpresa. Essa é uma frase clichê, mas é a mais pura verdade. Só quem já teve as suas reservas de surpresas esgotadas pode saber do que estou falando. Ela nos reserva muitas surpresas, e dentre elas muitas decepções. Hoje acredito que as decepções podem superar em muito os grandes momentos. Pois as decepções são dolorosas em si, e fazem crescer um sentimento que é diferente de tudo que já se sentiu.  
    A maior decepção que se pode ter na vida é descobrir depois de um tempo, de um bom tempo que não era, que não é, e que nunca será amado pela pessoa que tanto se devotava. É fácil mentir pra si mesmo, mais fácil ainda torna-se mentir para o outro. "Uma mentira dita várias vezes se torna uma verdade", mais que uma verdade. Causa até comoção, mas depois transforma-se em raiva, dor, mágoa, um sentimento de desprezo de si mesmo, por ter sido tolo e acreditado por tanto tempo em uma mentira deslavada.
   A gente passa a desacreditar nas pessoas, nas coisas, em tudo. Torna-se cético. Sente raiva, vontade de transgredir todas as regras, de burlar todas as leis. Sente vontade de flagelar-se, de punir-se. Sente vontade de matar, de morrer, de ir para a guerra pro que der e vier. Sem medo de morrer, sem medo de matar, mas com muita vontade de morrer para acabar com esse sentimento que dói, que machuca e dilacera a alma.
    A decepção é uma faca de dois gumes, pois vc está em crise com alguém, mas sabe que o ama. Às vezes, o amor acaba superando as crises. Mas, no fundo o coração está machucado, sangrando. Isso pode parecer até romântico demais, surreal, dramático, mas quem já passou por isso, quem já sentiu na carne viva a dor que seu corpo sente, que seu coração pulsa de uma forma diferente, como se fosse parar a qualquer momento sabe do que estou falando. A gente só quer que ele pare, que de uma vez ele faça o serviço que não conseguimos fazer de próprio punho, e em sã consciência. Ou talvez, a gente pare de sofrer e passe a enxegar aquilo que não queríamos, por achar que era mais conveniente. Conveniente pra quem? Pra mim? Acredito, hoje, que não. A gente faz tudo aquilo que acredita agradar ao outro, ao invés de tentar agradar a nós mesmos. A gente se entrega ao outro de corpo e alma, e o que o outro faz? Nos apunhala pelas costas com uma realidade que não era na real, com uma bomba que explode em suas mão, arranca-as e você simplesmente não sabe o que fazer, se grita, se chora, se pede socorro ou fingi que não é com você.
    De uma coisa temos certeza, não adianta gritar, pois ninguém irá te salvar. Seus medos, suas dores, sua angústia estão dentro de você. Só você poderá aplacá-los. Só você poderá superá-los. Ninguém vai te dar a mão. Ninguém te dará colo, carinho. Ninguém te dirá palavras consoladoras, que possam diminuir suas dores. Ninguém, simplesmente, fará nada por você, a não ser você mesmo e Deus.
    De uma coisa a gente passa a ter certeza, que não temos mais em quem acreditar, parece ser melancólico, dramático, mas é assim que sinto, e sei que é a mais pura realidade, para quem ama de verdade pelo menos. O que dizer diante das evidências? Nada. Apenas calar-se. Daí todas as fichas começam a cair, todas as coisas tolas ditas ao vento, todas as brigas infundadas fazem sentido. As pessoas nos decepcionam, mas a culpa não é delas. A culpa é nossa em depositar todas as fichas nelas, em querer que elas supram nossas expectativas, nossas necessidades. A culpa é minha em querer um alguém que não existe e que não posso criar.
    A gente muda, se transforma em outra pessoa. Essas são as consequências das nossas decepções. Ou a gente muda e se transforma em uma pessoa melhor, ou se conforma e se transforma em um monstro. Um monstro criado a partir de uma situação mal resolvida. A gente se torna intolerante, intransigente, irracível. Eu me transformei em um ser que desconheço-me por completo. Olho-me no espelho e não vejo mais aquela pessoa alegre que era antes, já nem sei mais de quem é esse sorriso. Tudo em mim é estranho. Eu me tornei uma estranha de mim mesma.
    Eu sempre soube que as pessoas são capazes de fazer coisas que nem elas mesmas imaginam. Porque eu me transformei em uma bomba relógio, que à todo o momento faz tic-tac prestes a explodir. Eu imagino coisas, e sei que sou capaz de torná-las reais. Eu torno real coisas que não imaginava, mas sabia que no meu subconscientes eu seria capaz de trazê-las à tona.
    Os que amam só desejam ser compreendidos. Os que amam levam consigo a dor de um deslumbramento. Mas, os que amam também passam a ter mais vergonha na cara e cuidam mais de si mesmos. Estou doando todos os meus sentimentos, não quero mais sentir. Quero que meu coração se transforme em uma rocha, em um meteorito. Não quero mais sentir, como sinto agora. Não quero mais amar, como amo e sei que amarei. Sou muito fraca. E a minha fraqueza está em satisfazer as vontades dos outros e esquecer de mim. Quero esquecer do mundo, quero esquecer que sou isso. Quero deixar de existir. Se existir é penar, sofrer, então prefiro morrer e existir só na memória daqueles que realmente fiz diferença. Quem sabe perdendo a gente passa a dar valor as coisas que se tinha e esnobava. Um dia a gente descobre que não existe muita diferença entre viver e morrer. Morrer se torna mais conveniente. A vida é uma desgraça! Viver é uma desgraça. Estou desgraçada nessa vida, e já não faz tanta diferença estar aqui contando isso tudo, pois as coisas passam, eu já passei. Prefiro o açoite constante da morte em mim, do que sofrer as duras penas e flagelos que as pessoas me imputam. Viva a hipocrisia, a demagogia e o egoísmo dos nossos algozes.

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