domingo, 17 de junho de 2012

O amor e o efeito da modernidade

    Amar na atualidade é muito complicado. É difícil achar uma pessoa para amar no século XXI, mas não impossível. O que me fez escrever essa postagem? Não foi pela falta de amor ou por decepção amorosa, mas devido a alguns relatos que venho escultando a alguns dias. E por incrível que pareça não foi apenas um ou dois, mas vários relatos.
   Outra coisa que me motivou foi um texto intitulado "Amor líquido - A fluidez dos relacionamentos na atualidade. O que me faz lembrar que é o título de um dos livros de Zigmund Bauman, que trata das relações efêmeras, que como o autor diz é a marca da modernidade. Então quer dizer que ser moderno é não ter amor? Na verdade eu não sei a resposta da minha pergunta, mas é o que parece estar acontecendo com as pessoas, a falta de amor. Em todos os sentidos.
    As pessoas hoje não se relacionam, elas ficam, elas pegam, eles dão uma rapidinha. E depois? Não existe o depois, existe apenas o agora, o logo. Depois como muita gente diz é: "beijo e tchau". Não existe mais respeito com os sentimentos das pessoas, parece uma febre que assola milhões de pessoas. De repente você encontra alguém, vocês se conhecem, começam a namorar. Mas de repente ainda, essa pessoa vira pra você, isso é quando terminam a relação pessoalmente, quando não acontece por telefone, pior ainda é pelas redes sociais, e o facebook é campeão nisso, e diz: não dá mais, você merece pessoa melhor do que eu, e eu não sou essa pessoa, te desejo toda felicidade do mundo". Aí você se pergunta: "como assim?" Se ainda ontem vocês trocavam juras de amor eterno.
    Aí que a gente para pra pensar e fica a se perguntar se a culpa não é nossa. Sim a culpa é nossa com toda certeza. Nos apaixonamos e quando isso acontece, e a outra pessoa percebe que estamos dispostas a tudo, o que acontece? Elas brincam com nossos sentimentos, como se fossem brinquedinhos de estimação. A gente sente ódio, rancor, raiva, mas não pode fazer nada. Apenas nos blindamos para os próximos relacionamentos. Ficamos mais espertas, mais atentas às pessoas que se aproximam da gente.
    Quem hoje escreve cartas de amor? Soa ridículo não é? Tenho certeza que quem leu essa frase pensou: pra que escrever carta de amor, se eu posso mandar um torpedo, um scrapp ou um comentário no facebook? Então caro leitor, eu sou ridícula. Sou do tipo que escrevo, ponho no correio e aguardo ela chegar até a residência da pessoa ou escrevo e entrego nas mãos da pessoa.
    As pessoas já não sabem mais o que é romantismo. Dizer eu te amo é clichê, e as pessoas acham que essa é a única forma de demonstrar amor, dizer eu te amo qualquer um diz, até se eu ensinar ao meu papagaio. Demonstrar amor é ter atitude! Demonstrar amor não é comprar o coração do outro com presentes, você conquista o coração do outro com gestos românticos, que foram perdidos com o tempo, uma rosa roubada da roseira do vizinho que salta ao muro de sua casa, um chocolate em formato de coração com um bilhetinho escrito nele. Um simples eu estarei com você em todos os momentos de sua vida, e não só dizer, mas fazer quando realmente for necessário.    
    Amar é respeitar o tempo, o espaço e o limite das pessoas. Amar é dizer a verdade, mesmo que essa verdade doa ou venha trazer alguns transtornos pro casal, nada que o tempo e o diálogo não venham colocar cada coisa em seu lugar. Às vezes a gente acha que não está pronto para amar alguém. A gente nunca está pronto, principalmente pelo fato de que cada pessoa que encontramos no caminho é única, dessa forma não podemos agir da mesma forma com todas elas. A gente tem que estar sim é disposta(o) a todo momento a querer amar, incondicionalmente. A gente tem que querer o bem às pessoas. 
    Não ame pela metade, não ame quando der, não ame quando você tiver tempo para o outro, ame por inteiro, ame de verdade, pois as pessoas nem sempre estarão dispostas a esperar pela sua boa vontade. As pessoas reclamam que está difícil de se relacionar hoje com alguém por muito tempo, mas o que é que elas fazem pra isso acontecer de fato? Nada. Continuam a fazer as mesmas coisas achando que estão agindo da forma correta, por que o erro nunca é nosso e sim do outro. As verdades são muitas, o que falta é o amor.  Como diz um poeta que amor tem haver com lentidão, e todo tipo de violência tem haver com a velocidade. Quem sabe se essa falta de amor não seja pela velocidade e correria das pessoas e coisas  na atualidade?

A velocidade da vida e as coisas de antigamente

    Com a velocidade da vida, e com o avanço tecnológico, que culminou nessa velocidade, andei observando que as coisas boas e simples de antigamente estão sendo esquecidas e deixadas dentro de um livrinho do era uma vez. A velocidade da vida gera a violência e muitas coisas negativas, já a lentidão promove o cuidado com as coisas e com as pessoas. 
    É uma nostalgia dos bons tempos, em que eu ainda nem entendia de fato o que estava vivendo naquele momento. Mas hoje revivendo minhas vagas lembranças vejo que aquele era o tempo. O avanço tecnológico mudou por completo a vida das pessoas. Isso é bom. Isso é ruim. Isso fez com que as pessoas evoluíssem de certa forma. Mas ao mesmo tempo fez com que as pessoas regredissem. 
    Tenho lembranças da década de 90 em que as coisas eram mais simples e mais interessantes. Era interessante descobrir coisas. Hoje não há surpresas nas coisas, há presentes sem surpresas. Há coisas sem lembranças. As cartas chegavam em nossas casas sendo pronunciadas pelo grito do carteiro "carteiro". Hoje elas são arremessadas por cima do muro, pelas gretas do portão, e colocadas nas caixas de correio, e ficam lá morfando por dias, semanas e até meses, tudo pela falta do grito do homem do correio. A mesma coisa são as contas, quando chegava se ouvia o entregador gritando "Coelba", "Embasa", hoje elas são silenciadas nas caixas de correio, quando são colocadas lá. 
    Outra coisa que sinto muita saudade é do sentido das festas comemorativas: Festa de Ramos, Carnaval, Páscoa, São João , Natal e Ano Novo. Estamos em época de São João e comecei a rememorar quando me vestiam com aqueles vestidinho juninos,  e pintavam meu rosto, e traçavam meus cabelos de Maria chiquinha e por fim vinha o chapéu de palha. A festa começava praticamente depois que acabava o carnaval, as pessoas se preparavam para dançar, tinha os ensaios e disputas de quadrilhas juninas. Havia as festas de largo, com comidas típicas feitas em casa. As ruas eram todas enfeitadas pelos moradores, não havia uma rua sem enfeite, parecia até um segundo céu, o de bandeirolas. As cumadres iam uma na casa da outra para preparar os quitutes, ralar o milho, o coco e a mandioca e prosear um pouco. Os vizinhos iam comer uns na casa do outro como forma de camaradagem. E hoje o que vemos? O São João sendo cancelado pelo descaso do governo no que tange problemas sociais, que culminou nesse cancelamento e que vai afetar ainda mais a economia desses lugares. Festas juninas com axé, pagode, samba e sem forró. Todas as festas se transformaram de forma a se organizar em torno do dinheiro. E por isso a tecnologia causou danos irreversíveis para a sociedade. 
    Não sou contra a tecnologia nem a modernização. Sou contra ao que venha causar danos em nossas memórias. Sou contra a promiscuidade que se transformou as coisas: violência, sexo, morte, bebida e dinheiro.  Onde fica as coisas simples da vida, o amor e os gesto de carinho? E olha que as pessoas de hoje pensam que quem pensa dessa forma como eu são antiquadas, de antigamente. De certa forma estão certas, pois quem guarda esses valores é porque já viveu. E quem não viveu acha que vive o melhor dos tempos. Infelizmente não veremos mais as coisas como antigamente, as novas gerações não terão esse prazer, estarão inseridos cada vez mais numa cultura acelerada e sem sentido. 
    Espero viver mais um pouco para poder contar tudo o que vivi. Espero que o mundo de amanhã ainda tenha idosos como no de idoso. Mas idosos com histórias alegres para contar e principalmente com memória.