segunda-feira, 20 de setembro de 2010

O homem da multidão

    Na multidão não me sinto só. Na multidão procuro me encontrar. Nessa multidão de corpos, cabeças, cheiros, faces, pensamentos e sentimentos me sinto um alguém. Tenho motivo para me encontrar, só não me sinto, não sou ninguém. Apenas, não sou. Não sinto. Não amo. Apenas sou.
    Seu rosto, seu corpo, o óculos, os pelos espalhados em seu corpo e sua bota de guerra podem me representar no meio dessa multidão que me cerca. Porque você? Nos seus olhos vejo o perdido, como me vejo. Cogito ergo sum? Não! Penso e nem existo.
    Sua bota de guerra suportará todas as pedras do caminho, e deixará pegadas para que caso nos percamos (eu e você) possamos nos encontrar e voltar pelo mesma vereda, em um novo recomeço, árduo.
    Sei que estás no mesmo caminho que eu. Até sinto que és igual a mim, que habitamos o mesmo mundo. Será por isso que te entendo? Sei que você também me entende, apesar de nunca ter dito, mas no fundo dos teus olhos posso ver toda a verdade que nos esconde. Nesse liquido em que vivemos nos desmanchamos, assim como tudo que almejamos desmancha no ar.
    Aquele outro alguém, pensando bem, também pode ser um alguém no meio dessa multidão. Um alguém, que assim como nós, procura um caminho. É meu caro, ela está no mesmo barco que nós, e se afundarmos iremos juntos, todos juntos. E o pior é que nem sei nadar, ou aprendo ou morrerei. Na verdade nem sei se faz muita diferença, viver e morrer.
    Sei que ela também guarda algo, no fundo dos seus olhos posso decifrar aquilo que ela não disse com palavras. Posso até está errada. Mas, nunca me enganei com os meus poderes de bruxa. Prevendo o futuro. Se eu estiver errada continuaremos sós na multidão e afundaremos juntos no mesmo barco, se não acharmos o caminho "certo". Sei que não há volta. O nosso caminho é só um. Podemos até tentar fugir, mas sempre retornaremos ao mesmo caminho. Se voltarmos nunca seremos felizes. Já não somos sem saber para onde vamos.
    Quem sabe um dia nos encontramos e paramos num bar? Tomaremos uma cerveja e conversaremos sobre o nosso futuro, incerto. Quem sabe se o nosso futuro é não ser, e apenas existir para fazer vir a existência de outros? Mas, enquanto não descobrimos a verdade, a nossa verdade, caminharemos juntos, beberemos e conversaremos mais um pouco. Me conta mais um pouco sobre você, além do que consigo ler em seus olhos, em sua bota de guerra, em seus óculos e em seus pelos...

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