segunda-feira, 19 de julho de 2010

Tempo



 A morte é inevitável. Não se pode prevê-la ou refutá-la. A morte cala. Cala todas as vozes. Todas as vozes num silêncio mudo. Não tenho medo da morte. Não tenho medo de morrer. É o nosso fim implacável que cala todas as dúvidas, todas vozes e impõe silêncio.
    A morte está em mim. Está em todos nós. Temo não cumprir minha missão antes de ir. Temo não realizar meus sonhos. Temo em desperdiçar o tempo achando-o infinito. Não tenho muito tempo. O tempo que me resta é muito pouco, tão pouco que se dissipa por entre os dedos. Temo em não aproveitar a minha vida e ficar a me lamentar enquanto poderia apenas viver. Temo em de repente não me sentir mais em meu corpo, num tempo não previsto: antes do tempo programado para fazer as pessoas felizes. Não temo a morte. Meu temor é o tempo. O tempo diante da vida que passa a compassos largos.
    Temo em ver o tempo passar e não estar perto da pessoa que mais amo. Temo em ver o tempo dissipar-se e não ter tempo de dizer um simples "Eu te amo." Não sei o que o dia de amanhã me reserva. Viverei um dia com o outro, sem perder tempo para o azar e para o próprio tempo que me rouba todos os dias, um dia de minha vida.
 O tempo é meu inimigo. Inimigo em todos os sentidos. Ele afasta, aos poucos, quem eu amo: no tempo e no espaço. Ele faz ficar guardado na lembrança e no coração um sentimento não correspondido. Um sentimento que dói com o tempo. Um sentimento que o tempo não faz esquecer e deixa mais latente na memória. Ele faz doer esse coração, machuca.
    O tempo é o meu maior dilema. O tempo da morte é incontrolável. Só me resta controlar o tempo da vida. Controlar os ponteiros do tempo, de minha própria vida, é o que me sobra, antes que o tempo tire de mim a única coisa que me resta: amor. 

Um comentário:

RSOLIVEIRA disse...

SHOW DE BOLA ESSE TEXTO! A MORTE É INEVITÁVEL, MAS SOMENTE A MORTE DO CORPO, POIS A ALMA É ETERNA, PRINCIPALMENTE DOS POETAS! BEIJOS!